Depois de trocar algumas fachadas de loja por Méqui, agora alguns executivos do Mc Donald’s, em uma ação, no mínimo, muito instigante, incluíram o sobrenome corporativo “do Méqui” em seus perfis de LinkedIn.
Uma ação provocativa para um momento em que o tema de Marca Pessoal x Marca Corporativa começa a ganhar espaço no Brasil – e demorou!
Enquanto trabalhamos em uma empresa, costumamos dizer que somos “da empresa tal”. Eu fui a Susana Arbex da Natura por anos, assim como a Giu já contou por aqui também sobre a história dela.
Muita gente se incomoda com este tema, mas a verdade é que isso não é necessariamente algo negativo.
Ser “da Natura” foi parte da minha vida por muito tempo, e hoje é parte da minha história. Sempre será. Carrego comigo uma herança de aprendizados, vivências e belas amizades, assim como sei que deixei meu legado por lá.
Na convivência de uma Marca Pessoal com uma Marca Corporativa, três fatores são críticos para o sucesso e uma relação harmoniosa:
1 – A geração de valor mútuo
2 – A convergência de valores
3 – O equilíbrio de prioridades.
Vamos começar pela geração de valor mútuo.
Sempre falo que Marca Pessoal não é sobre você. É sobre o valor que você gera.
Então para fortalecer a sua Marca Pessoal em um ambiente corporativo, fuja da armadilha de falar de si. Procure falar sobre como você gera valor para a empresa. Compartilhe seus cases, discorra sobre erros e acertos, mostre bastidores, valorize seu time. Você estará promovendo o seu trabalho também, e de uma maneira positiva. Assim você evita (ou ao menos minimiza) os comentários maldosos daqueles que, por incompetência de fazerem esta divulgação de forma harmoniosa, limitam-se a dizer que “fulano está fazendo Marketing Pessoal e quer aparecer”.
Entenda tudo aquilo no que a empresa agrega valor à sua Marca, e enalteça estes pontos.
Segundo Talaya Waller, especialista americana em Personal Branding, um post com conteúdo sobre uma empresa tem 561% mais engajamento se postado por um funcionário do que quando postado pela própria empresa. Seja o embaixador da Marca para a qual você trabalha e colha, junto com ela, os frutos da reputação que, afinal, você também ajuda a construir.
Sobre a convergência de valores.
Todos nós temos pontos de interseção entre nossos valores e os da empresa para a qual trabalhamos. Assim como temos divergências. Trabalhar sua Marca pessoal neste contexto é buscar os pontos de convergência. Não é fingir que as diferenças não existem, mas é colocar o foco naquilo que nos une.
Somos humanos. Nos acostumamos muito rapidamente com aquilo que é confortável para nós. Incorporamos, e como dizem os americanos, “we take it for granted”. Na maioria das nossas relações, muitas vezes tomamos logo para nós aquilo que nos agrada e passamos a considerar como dado, consolidado, direito adquirido. Neste exercício aqui, lembre-se daqueles pontos que te encantaram quando você entrou. Muitos deles provavelmente ainda estão lá. Ao falar da sua empresa, coloque luz nestes pontos. Reforce-os. Além de fortalecer ambas as marcas, isso é bom pra você.
Sim, para você. Isso aumenta a sua felicidade no trabalho, te reconecta com o seu propósito e com o motivo de estar ali naquele momento, independente de qualquer que seja o seu dia seguinte. Agora, o equilíbrio de prioridades.
O trabalho de Marca Pessoal em conjunto com a Marca Corporativa envolve saber preservar um sutil equilíbrio. É não deixar a balança pender demais nem pra um lado nem para o outro. É saber se entender parte de uma engrenagem que pode, claro, rodar sem você, mas que fica melhor com a sua participação. Adoramos o exemplo da Sheryl Sandberg, que poderia ser CEO de inúmeras empresas, mas escolhe ser a vice do Mark, e tem o apoio dele para navegar em sua Marca Pessoal, fortalecendo ainda mais o Facebook como um polo de atração de talentos. Quanto mais os executivos compreenderem seu papel como embaixadores, e mais as empresas entenderem que precisam de executivos com Marcas Pessoais fortes, melhor para ambos. O tamanho certo da exposição depende de cada contexto e cada cultura, mas sua Marca Pessoal é seu maior ativo. Ela transcende o local onde você está hoje. Por isso uma empresa que não permite que as individualidades floresçam merece cuidado. Busque revelar a sua autenticidade sem parecer uma ameaça.
Essa ação do Méqui me lembrou muito uma questão que nós, mulheres, vivemos quando optamos por adotar o nome de casadas. Polêmicas e escolhas à parte, aquelas que decidem adicionar à sua Identidade um outro nome, estão dizendo ao mundo que têm orgulho de fazer parte daquela família. Sabendo do risco de romper esta relação e de ter que tirar este sobrenome em algum momento futuro. Mas ele sempre fará parte daquela história de alguma forma.
Então talvez seja um tanto clichê terminar esta reflexão com o poema, mas a verdade é que nenhum outra analogia me parece tão adequada: nas relações profissionais, tenhamos com nossa Marca Pessoal cuidados semelhantes aos que temos nas nossas relações interpessoais.
Cuidar para preservar a sua individualidade, e entender a hora de ceder.
Resgatar o que te encantou no começo – pode ser que ainda esteja lá.
Lutar pelo equilíbrio de protagonismo, respeitando que os calibres sejam diferentes.
Saber sair de relações que se tornam abusivas ou desequilibradas para um dos lados.
E lembrar sempre que, já que a relação pode não ser (e provavelmente não será) eterna, enquanto lá estiver, faça dela infinita enquanto dure.